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Desalinhamento com o Propósito: O Perigo Silencioso que Mina as Empresas

  • Writer: Pedro Castro
    Pedro Castro
  • Nov 3, 2024
  • 5 min read

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Como sócio naĀ Fundamento, uma das liƧƵes mais profundas que aprendi ao longo dos anos Ć© a importĆ¢ncia de alinhar cada ação e decisĆ£o aoĀ propósitoĀ central da organização. Quando hĆ” um desalinhamento com o propósito, a empresa comeƧa a enfraquecer suas bases, e aquilo que a define – sua identidade – passa a se diluir no cenĆ”rio competitivo. O que parece, inicialmente, uma pequena incongruĆŖncia pode, com o tempo, gerar uma desconexĆ£o crĆ­tica entre a visĆ£o da empresa, seus colaboradores e o mercado.


OĀ propósitoĀ Ć© o coração de qualquer organização, e ignorar esse centro vital pode ser fatal. Ɖ como um farol que guia nĆ£o apenas a estratĆ©gia, mas tambĆ©m a cultura, o comportamento dos lĆ­deres e a forma como os produtos e serviƧos sĆ£o entregues ao cliente. O renomado autorĀ Simon Sinek, em seu famoso livroĀ Start with Why, define o propósito como o "porquĆŖ" das empresas – a razĆ£o pela qual elas existem, alĆ©m de simplesmente buscar lucro. Quando esse "porquĆŖ" Ć© ignorado ou obscurecido, a empresa comeƧa a perder seu caminho, tornando-se vulnerĆ”vel a falhas internas e Ć  competição externa.


A SĆ­ndrome do Desalinhamento: Causas e ConsequĆŖncias

No cenÔrio corporativo, o desalinhamento com o propósito pode ocorrer de maneiras sutis. Pode surgir quando decisões estratégicas são tomadas sem considerar os valores fundamentais da empresa, ou quando os líderes começam a priorizar ganhos imediatos em detrimento de suas crenças e compromissos de longo prazo. A Fundamento jÔ trabalhou com empresas que enfrentaram exatamente esse problema: líderes que, por pressão de resultados rÔpidos, optaram por seguir caminhos que, embora lucrativos a curto prazo, eram contrÔrios à essência da organização. O resultado foi uma equipe desmotivada, uma marca enfraquecida e uma desconexão crescente com seus clientes.


Uma analogia que gosto de usar, baseada nas experiências que vivi, é a de um navio à deriva. Imagine uma empresa como um navio que tem um destino claro: o propósito. Se o capitão decide ignorar a rota, seja por pressão externa ou interna, o navio começa a se desviar lentamente. A princípio, os tripulantes podem nem perceber a mudança de direção, mas à medida que o tempo passa, o navio se afasta cada vez mais de seu destino original. O que era para ser uma jornada rumo à excelência e ao impacto positivo torna-se uma viagem confusa, onde a identidade da organização se perde em um mar de decisões desconectadas.

Na Fundamento, lidamos com esse tipo de situação diversas vezes. Empresas que, por anos, seguiam uma rota clara e bem definida, mas que começaram a desviar de seus valores em busca de novas oportunidades que, embora promissoras, não refletiam quem elas realmente eram. A consequência? Desengajamento dos funcionÔrios, perda de fidelidade dos clientes e, em muitos casos, a desestruturação interna da organização.


Casos de Desalinhamento: Aprendendo com o Erro


Um exemplo clÔssico de desalinhamento com o propósito vem da Enron, uma das maiores e mais trÔgicas falências corporativas dos anos 2000. A Enron foi, em seu auge, uma das empresas mais admiradas do mundo, com uma marca que se alinhava à inovação e à disrupção no setor de energia. No entanto, à medida que os líderes da Enron começaram a priorizar resultados financeiros em detrimento de prÔticas éticas e transparentes, a empresa perdeu de vista seu propósito original. A busca por lucros rÔpidos gerou um escândalo contÔbil de grandes proporções, que não apenas destruiu a empresa, mas também abalou a confiança de milhares de investidores.


O caso da Enron é um lembrete do que pode acontecer quando os líderes de uma organização colocam o curto prazo acima do propósito, subestimando a importância da integridade organizacional. Como aponta o acadêmico Jim Collins em seu best-seller Good to Great, as empresas que perduram e se destacam são aquelas que permanecem fiéis a seus valores centrais, mesmo diante de adversidades. Para Collins, o verdadeiro sucesso é construído com base em um propósito claro, inabalÔvel, e que é promovido de forma coerente em todas as decisões da empresa.


Liderança: O Guardião do Propósito

Se hÔ um ponto crucial que aprendi em minha jornada como líder na Fundamento, é que a liderança é a guardiã do propósito. Os líderes, mais do que ninguém, precisam estar comprometidos em garantir que cada passo dado pela organização esteja em alinhamento com seus valores e missão. Isso não significa ser inflexível ou ignorar novas oportunidades. Pelo contrÔrio, significa avaliar cada nova iniciativa sob a lente do propósito: essa decisão estÔ alinhada com quem somos e o que buscamos realizar a longo prazo?


Um exemplo recente que reforƧa essa importĆ¢ncia vem daĀ Patagonia, uma empresa reconhecida por seu compromisso com a sustentabilidade e o meio ambiente. Em vez de buscar apenas o lucro, aĀ PatagoniaĀ fez de seu propósito – a preservação do planeta – a forƧa motriz de todas as suas decisƵes. Isso nĆ£o apenas fortaleceu a marca e a lealdade dos clientes, mas tambĆ©m permitiu que a empresa tomasse decisƵes ousadas, como fechar suas operaƧƵes durante grandes dias de compras, incentivando seus clientes a consumir de forma mais consciente. O sucesso da Patagonia mostra queĀ manter o propósito no centro da estratĆ©gia pode, paradoxalmente, gerar lucros sustentĆ”veis a longo prazo.


O Custo de Ignorar o Propósito

Ignorar o propósito de uma empresa é um caminho perigoso que pode levar à fragmentação da marca, à insatisfação dos funcionÔrios e à alienação dos clientes. "A cultura come a estratégia no café da manhã", como jÔ disse Peter Drucker, e o desalinhamento cultural é um dos primeiros sinais de que o propósito foi deixado de lado. Quando os colaboradores começam a perceber que as ações da empresa não refletem mais seus valores fundamentais, o engajamento diminui, e a cultura organizacional começa a se corroer.


Uma pesquisa realizada pela Deloitte mostrou que 73% dos funcionÔrios que acreditam no propósito da empresa estão engajados em seu trabalho, em comparação com apenas 23% daqueles que não veem um alinhamento claro. Isso demonstra que o propósito não é apenas um conceito teórico; ele tem um impacto direto na performance e na retenção de talentos. "Uma organização sem um propósito claro estÔ fadada a se perder", como afirma Howard Schultz, ex-CEO da Starbucks, e o impacto pode ser devastador a longo prazo.


Manter o propósito como uma bússola central nas decisões empresariais não é apenas uma questão de identidade; é uma questão de sobrevivência no mercado competitivo. O desalinhamento com o propósito pode parecer, a princípio, uma pequena incoerência, mas, como vimos em inúmeros casos, pode levar a uma série de consequências graves, tanto internas quanto externas.


Na Fundamento, acreditamos que o propósito é a base de qualquer empresa bem-sucedida. Ele orienta não apenas as decisões estratégicas, mas também define como as empresas se relacionam com seus funcionÔrios, clientes e o mercado. Como líder, vejo diariamente a importância de garantir que cada ação, cada inovação e cada mudança esteja alinhada com os valores centrais da organização. Porque, no fim das contas, sem um propósito claro, a empresa pode até sobreviver, mas jamais prosperarÔ.


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